Dissertação - Gabriela Guerra Araújo Abrantes de Figueiredo

Variação na estrutura trófica e no uso dos recursos alimentares da ictiofauna de zonas rasas de um gradiente estuarino - límnico

Autor: Gabriela Guerra Araújo Abrantes de Figueiredo (Currículo Lattes)

Resumo

O estudo da estrutura trófica de comunidades biológicas nos fornece uma descrição da organização e funcionamento do ecossistema e das interações entre as comunidades. Comparar a estrutura trófica das comunidades ao longo de gradientes ambientais pode fornecer novas interpretações em relação a sua organização trófica e serve de base para avaliar impactos antrópicos presentes e futuros. Um dos métodos mais comuns atualmente para se avaliar relações tróficas é a análise dos isótopos estáveis (AIE), o qual vem sendo utilizado para estimar os fluxos de matéria orgânica entre consumidores bem como sua posição trófica na cadeia alimentar. O objetivo principal dessa dissertação foi investigar a estrutura trófica da assembleia de peixes de zonas rasas ao longo de um gradiente estuarino-límnico, a partir da AIE de carbono (13C/12C) e nitrogênio (15N/14N) de fontes alimentares basais (i.e., plantas com fotossíntese C3 e C4 e matéria orgânica particulada em suspensão, POM) e peixes dominantes em cada sistema. Amostras de fontes alimentares basais, peixes e invertebrados foram coletados na primavera e verão entre 2009 e 2010 no estuário da Lagoa dos Patos, Canal São Gonçalo e Lagoa Mirim no extremo sul do Rio Grande do Sul. Biplots e métricas isotópicas (Convex hull e nicho isotópico) foram utilizadas para descrever e comparar a estrutura trófica da ictiofauna entre os ambientes. Análises de correlação foram realizadas para analisar a relação entre o comprimento total (CT) da ictiofauna e a posição trófica (PT). Modelos bayesianos de mistura isotópica foram empregados para avaliar a variabilidade no uso de recursos alimentares ao longo do gradiente ambiental para o barrigudinho Jenynsia multidentata, uma das únicas espécies frequentes ao longo de todo gradiente. A área total (Convex hull) e o nicho isotópico ocupado pela assembleia de peixes variaram marcadamente entre os ambientes, com o estuário apresentando uma área total duas vezes maior (CH: 50,28) do que o Canal e a Lagoa (17,51 e 20,29, respectivamente). Já o nicho isotópico, que é robusto aos efeitos de possíveis diferenças no número amostral, apresentou diferenças estatísticas entre estuário e os dois ambientes de água doce (p<0,00), porém esses dois últimos não apresentaram diferenças entre si (p>0,30). A AIE dos peixes no Canal sugere que a fragmentação de habitat ocasionada pela presença de uma barragem-eclusa afetou também a conectividade trófica entre o estuário da Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim. Variações na razão isotópica do nitrogênio da comunidade também sugerem que impactos antrópicos como a eutrofização são mais acentuados no estuário da Lagoa dos Patos e Canal. As análises de correlações não mostraram correlação positiva entre o CT e PT. O modelo de mistura mostrou que as principais fontes alimentares basais para J. multidentata no canal foi POM, enquanto na lagoa foram principalmente plantas C4 e POM e no estuário houve uma maior sobreposição nos intervalos de credibilidade, não sendo possível distinguir diferenças significativas na contribuição relativa das fontes basais para a espécie. Nossos resultados mostraram que há diferenças na estrutura trófica e no uso de recursos alimentares ao longo do gradiente ambiental e que impactos antrópicos, como construção de barragem e eutrofização, afetam a ictiofauna nesses ambientes

TEXTO COMPLETO DA DISSERTAÇÃO

Palavras-chave: Ecologia tróficaIsótopos estáveisEutrofização