Dissertação - Daiana Kaster Garcez

Diversidade e estruturação genética do peixe anual Austrolebias wolterstorffi (Cyprinodontiformes: Rivulidae)

Autor: Daiana Kaster Garcez (Currículo Lattes)

Resumo

Peixes anuais (Cyprinodontiformes: Rivulidae) constituem um grupo fascinante de peixes de água doce, que vivem em poças d`água temporárias que se formam durante os períodos chuvosos, possuindo um ciclo de vida curto. Estas espécies estão sujeitas a ação de um conjunto de condições evolutivas, demográficas e metabólicas que podem resultar na rápida divergência entre populações. Alguns destes mecanismos, acrescidos da degradação e fragmentação das áreas úmidas, fazem dos peixes-anuais um dos grupos de vertebrados mais ameaçados. Austrolebias wolterstorffi difere de outras espécies de Austrolebias por seu maior tamanho corporal e faixa de distribuição, ocorrendo em poças temporárias desde o norte da Lagoa dos Patos até o sul da Lagoa Mirim. Como esta espécie é considerada Criticamente Ameaçada de extinção, e como o estabelecimento de qualquer estratégia de conservação deve ser precedida por estudos desenhados no sentido de compreender os níveis e a distribuição geográfica da variação genética dentro da espécie-alvo, este estudo visa caracterizar os níveis de diversidade e diferenciação genética ao longo da área de distribuição de A. wolterstorffi. Para isso, 94 espécimes desta espécie tiveram 798 pb do gene mitocondrial citocromo b sequenciados, sendo então analisados através de enfoques filogenéticos e filogeográficos. Nossas análises revelaram a presença de níveis significativos de diferenciação entre muitas populações, em um padrão de isolamento-por-distância. Adicionalmente, de acordo com a rede de haplótipos, com a árvore filogenética e com a SAMOVA, A. wolterstorffi encontra-se subdividida em pelo menos cinco diferentes grupos de populações, sendo este esquema de agrupamentos capaz de explicar mais de 76% da variação encontrada na espécie. Isto sugere que fragmentação alopátrica ou vicariância tem desempenhado um papel importante na diversificação de A. wolterstorffi, que pode representar um complexo de espécies com um contínuo de diferentes estágios de especiação. Inspeções morfológicas futuras podem confirmar a presença destas novas espécies insipientes, embora especiação críptica também seja uma possibilidade. Nossos achados sugerem ainda que o haplogrupo uruguaio é derivado com relação aos haplogrupos brasileiros. Assim, este estudo auxiliou na compreensão do cenário evolutivo associado a origem e diversificação de A. wolterstorffi, ao mesmo tempo que evidenciou a necessidade de adotar estratégias de conservação independentes em cada uma das cinco áreas maiores cobertas por este estudo, quatro das quais estão localizadas no Brasil.

TEXTO COMPLETO DA DISSERTAÇÃO

Palavras-chave: Fragmentação alopátricaSistemas lagunares