Dissertação - Sabrina Radunz Vollrath

Ecologia trófica de duas espécies congenéricas de juvenis de tainha (Mugil curema e M. liza) no extremo sul do Brasil

Autor: Sabrina Radunz Vollrath (Currículo Lattes)

Resumo

A sobreposição de nicho ocorre quando duas ou mais espécies compartilham os mesmos recursos. Quando a sobreposição é baixa ou tem abundância de recursos, as espécies podem coexistir sem competição. Entretanto, se a sobreposição é alta e a disponibilidade de recursos baixa, poderá ocorrer competição. Porém, essa relação simples nem sempre é observada devido a vários fatores como variabilidade espacial e temporal na disponibilidade de recursos e plasticidade trófica dos consumidores. Uma maneira de evitar a competição é por meio da partição de recursos alimentares entre os indivíduos coexistentes. Um modelo biológico interessante para avaliar essas questões são os juvenis de tainha Mugil curema e Mugil liza que ocorrem em simpatria no estuário da Lagoa dos Patos e região costeira adjacente e possuem o mesmo hábito alimentar. A partir das técnicas de análise de conteúdo estomacal e isótopos estáveis, o objetivo principal dessa dissertação foi comparar os padrões de uso de recursos alimentares entre juvenis de duas espécies congenéricas de tainha (M. curema e M. liza) e avaliar a possível ocorrência de partição de nicho trófico entre elas. Os resultados isotópicos corroboraram a hipótese de partição de nicho trófico no ambiente marinho. Em contrapartida, houve alta sobreposição dos nichos tróficos no estuário, sugerindo ausência de partição de nicho trófico no ambiente com maior diversidade de microalgas. Também foi possível observar evidências de mudança do hábito alimentar planctônico para bentônico por ambas as espécies ao recrutarem do mar para o estuário. No estuário, também foi possível observar maior assimilação de matéria orgânica particulada no sedimento entre 68 e 250µm, sugerindo preferência por organismos do microplâncton (20 a 200 µm), em detrimento de grupos com tamanhos menores como picoplâncton (0,2 a 2µm) e nanoplâncton (2 a 20 µm). A análise do conteúdo estomacal revelou que a dieta de ambas as espécies é dominada pelas classes Bacillariophyceae, Coscinodiscophyceae e Mediophyceae, bem como maior variação espacial e temporal no estuário do que no ambiente marinho. Esses resultados avançam o atual entendimento da ecologia trófica das tainhas, as quais constituem importantes recursos pesqueiros que vem sofrendo crescente pressão antrópica no sul do Brasil.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: BiologiaEcologiaMugilidaeTainhaMugil curemaMugil lizaIsótopos estáveisConteúdo estomacalNicho tróficoPartição recursos alimentaresSobreposição de nicho