Dissertação - Amanda Oliveira Travessas

Dieta e repartição de recursos entre garças reproduzindo em simpatria no sul do Brasil

Autor: Amanda Oliveira Travessas (Currículo Lattes)

Resumo

Estudos de ecologia trófica comparativa informam sobre o uso de recursos alimentares, permitindo estimar a sobreposição e amplitude de nicho entre diferentes espécies em um determinado ambiente. Diversas espécies de aves aquáticas predadoras, como as garças, reproduzem-se em colônias mistas, podendo compartilhar os mesmos recursos obtidos em áreas adjacentes. No estuário da Lagoa dos Patos, área com abundância de recursos e de importância para aves aquáticas, há uma grande colônia de Pelecaniformes, localizada na Ilha dos Marinheiros, Rio Grande do Sul, Brasil. Dentre as sete espécies de Ardeidae presentes na colônia, três das mais abundantes (Bubulcus ibis, Egretta thula e Nycticorax nycticorax), de tamanhos semelhantes e com potencial sobreposição de nicho, ainda não foram estudadas nesse aspecto. Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo investigar a dieta e repartição de recursos entre estas espécies, combinando métodos convencionais com análise de isótopos estáveis. Para isso, foram coletados regurgitados e pellets, para análise da dieta, e sangue de ninhegos, para a análise das razões isotópicas do carbono (13C) e nitrogênio (15N). As presas mais representativas na dieta de B. ibis foram insetos e anuros. Egretta thula alimentou-se principalmente de peixes e insetos, enquanto o inverso, insetos seguidos por peixes, caracterizou a dieta de N. nycticorax. A maior sobreposição de nicho isotópico foi de N. nycticorax sobre os nichos de E. thula e de B. ibis. Diferente do predito nas hipóteses do estudo, o nicho trófico e isotópico de N. nycticorax não diferiu das demais garças, possivelmente devido ao hábito de forrageio noturno. Porém, houve elevada sobreposição e esta espécie teve os nichos trófico e isotópico mais amplos. Bubulcus ibis, parece ter forrageado principalmente em ambientes terrestres e E. thula principalmente nos ambientes límnicos. As três espécies diferiram na dieta, quanto aos principais habitats de forrageio, mas ambas compartilharam recursos alimentares entre si, destacando a importância da abundância de recursos alimentares no entorno de colônias situadas em ambiente estuarino. Ademais, evidenciou-se que pelas espécies possuírem papéis ecológicos com algumas diferenças, podem coexistir na mesma colônia estuarina, compartilhando recursos alimentares. Conclui-se que os estudos sobre a dieta e repartição de recursos de garças, em colônias situadas não apenas na região do estudo, mas também em diversos ambientes aquáticos continentais são fundamentais para o entendimento das interações ecológicas entre consumidores e suas presas.

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Palavras-chave: EcologiaEstuáriosAves aquáticasColônias de animaisIsótopos estáveisArdeidaeEspécies simpátricasLagoa dos Patos